Como camisas de algodão viraram ameaça do futebol europeu aos clubes do Brasil

Segundo pesquisa do Ibope de 2015, 69% dos brasileiros entre 16 e 29 anos torcem para algum time de futebol europeu. Para você ter uma ideia do que esse número representa, apenas 80% dos brasileiros torcem para algum time brasileiro. Esses números indicam que, por aqui, a parcela da população que acompanha futebol europeu é muito próxima do público que segue futebol nacional.

Esse crescimento da influência do futebol europeu por aqui criou uma disputa verdadeira entre clubes brasileiros, como Corinthians e Flamengo, com os times do Velho Continente, como Barcelona ou Real Madrid. Em busca de novos torcedores, os brasileiros precisam conquistar os jovens. Mas são justamente esses que já escolheram um time estrangeiro para torcer.

Nessa batalha, uma camiseta de algodão pode parecer inofensiva, mas não é. Para o futebol brasileiro e sua luta pelo coração dos jovens, essa peça de vestuário simples representa uma ameaça gigante.

Até hoje, para se consumir produtos de times de futebol no Brasil existia uma barreira a favor dos clubes brasileiros. Esses costumam oferecer para seus torcedores, além da linha oficial produzida pelo patrocinador de material esportivo, produtos casuais, de fabricação licenciada e mais baratos.

Os times europeus ainda dependiam das linhas oficiais, feitas por empresas como Nike e Adidas, que além de mais caras, ainda tinham uma oferta restrita de produtos. Logo, as opções dos clubes europeus para criar uma base de torcedores por aqui, consumindo produtos com a sua marca, eram limitadas a um público de maior poder aquisitivo.

Desde a semana passada, isso mudou. A Centauro, maior rede de varejo de materiais esportivos do país, lançou uma linha de produtos licenciados do Barcelona, em acordo inédito no mundo – a festa de apresentação contou até com Ronaldinho Gaúcho em uma das lojas, em São Paulo. Vendendo de blusões a shorts, a grande notícia da linha são camisetas de algodão vendidas a partir de R$ 59,99. Isso significa que mesmo o torcedor que não tem um poder de investimento tão alto já pode ter um produto oficial do Barcelona.

"A gente vem percebendo que, nos últimos anos, a molecada está cada vez mais vidrada em futebol internacional e na Liga dos Campeões. Isso ocupa cada vez mais espaço no cotidiano deles. Nossa estratégia foi olhar para as projeções para os próximos anos e dar um grande passo com o Barcelona. Vimos que tinha uma demanda que não estava sendo atendida. Temos exemplo que ganhamos força no futebol e no clube como um todo. E o produto oficial de jogo continua ocupando o patamar dele e essa demanda não canibaliza a oficial", explica Diego Freitas, diretor de futebol da Centauro.

"Já tínhamos uma variedade de camisas de times e de seleções, mas faltava uma amplitude de produtos, visando o vestuário mais casual. É isso que estamos buscando com essa parceria com o Barcelona: ter mais produtos para nosso cliente, em uma gama de preços mais acessíveis", completa Cláudio Assis, diretor executivo de produtos da rede.

O interesse pelo Barcelona não foi aleatório. Um estudo do instituto Paraná Pesquisa, de 2016, indica que 25% dos jovens brasileiros que se declararam torcedores de algum time europeu elegeram o clube catalão como o preferido.

A própria Centauro tem números para essa aposta. Em volume de vendas, o Barça só está atrás de Corinthians e Flamengo nas lojas da rede. Detalhe: foi justamente a experiência com produtos licenciados dos dois clubes nacionais que fizeram a Centauro investir no mesmo caminho com o time espanhol. Nas primeiras duas semanas de lançamento, as vendas já superaram as expectativas. E, por isso, novos clubes já estraram no radar.

"É uma estratégia de autoridade da Centauro no futebol abraçar essa tendência. O Barcelona era o primeiro passo, mas tem outros times no forno", diz Freitas.