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Bilionário sócio de Ronaldo faz nova aposta no esporte: o fim dos cadarços

Na Vitrine

31/08/2017 04h00


Carlos Wizard Martins, 60, começou a carreira como professor de inglês e forjou um império a partir da rede de escolas de idiomas Wizard, joia da coroa do Grupo Multi. A relação entre o empresário paranaense e a companhia tornou-se indelével a ponto de ele ter incorporado a marca ao próprio sobrenome em 1989. Por isso, gerou espanto a decisão que Wizard tomou em 2013: por quase R$ 2 bilhões, vendeu à britânica Pearson a totalidade do negócio que havia construído durante toda a vida.

O "desapego", para muitos, poderia ter sido um passo em direção a uma aposentadoria confortável. O bilionário, contudo, fez o oposto: começou a tatear novos mercados e buscar novas oportunidades para novos negócios. Numa dessas frentes, decidiu investir no esporte. Tornou-se sócio do ex-jogador Ronaldo Nazário, 40, em uma rede escolinhas de futebol, e fez uma aposta no futuro do segmento. No início do próximo mês, a nova holding de Wizard deve lançar no Brasil uma marca cujo foco é o fim dos cadarços.

Fundada em 2011, a Hickies tem origem nos Estados Unidos. Seu principal ativo é uma tecnologia que substitui os fios que fecham calçados, e a grande destinação dos produtos é justamente o segmento esportivo. A operação da marca no Brasil será gerida pela BR Sports, empresa que foi criada pela Sforza, gestora de investimentos arquitetada por Wizard em parceria com os filhos Lincoln e Charles. O novo império da família tem feito aquisições em série e pretende atingir em 2018 os mesmos R$ 2 bilhões de valor do Grupo Multi.

A Hickies tem papel estratégico nesse processo. Ao contrário de outras empresas do novo grupo de Wizard, trata-se de uma marca desconhecida e de um segmento pouco explorado no mercado brasileiro. A aposta, no caso, é na tendência: nos últimos anos, as principais marcas de material esportivo do planeta lançaram diferentes soluções para eliminar os cadarços em calçados. A atual chuteira do argentino Lionel Messi, 30, é um exemplo. Produzida pela Adidas, a Nemeziz tem nas versões top de linha uma tecnologia que se expande no ato de calçar e posteriormente se ajusta ao pé.

Na BR Sports, a Hickies fará parte de um portfólio que já contava com as marcas Rainha e Topper e que em julho passou a deter também os direitos da Saucony no Brasil. A empresa focada no segmento de corrida já havia frequentado as prateleiras nacionais anteriormente e voltou ao país com uma coleção formada por sete modelos de calçados – todos importados. A meta do grupo que a controla é ter ao menos 14 versões disponíveis já a partir da próxima coleção, que também deve marcar a inclusão de produtos "nacionalizados".

"Fizemos uma pesquisa de mercado e identificamos potenciais clientes que se sentiam órfãos com a saída da Saucony do mercado. Identificamos uma oportunidade. Os praticantes de maratonas, a despeito de qualquer situação no Brasil, têm crescido de forma significativa. Em 2016, 20 mil brasileiros concluíram uma maratona. Isso representa 35% a mais do que no ano anterior, o que é um crescimento expressivo. Hoje, a BR Sports se posiciona como uma holding especialista em gestão de marcas esportivas. Cada marca tem sua vida, representatividade e forma de comunicação com seu público chave. Falando de Saucony, no primeiro lançamento nós trouxemos sete modelos, todos eles 100% focados em corrida de alta performance, com desdobramento em 36 cores. Nosso caminho está muito claro e fácil de saber onde vamos colocar o pé no Brasil, que é na parte de running, com foco em triatletas, maratonistas e praticantes de Iron Man que têm foco em performance", explicou Leonardo Chamsin, CEO da BR Sports.

A estratégia de posicionamento do grupo para Saucony no Brasil é colocar os calçados na faixa entre R$ 500 e R$ 999. A aposta é totalmente focada em uso intenso – entre julho e agosto, por exemplo, consumidores da marca nas lojas Bayard tiveram 20 dias de experimentação e puderam recuperar 100% do valor investido em caso de reprovação do produto. Em cinco anos, a BR Sports espera colocar a empresa entre as três maiores de running do país em volume de vendas – faixa que a Saucony já ocupa nos Estados Unidos. Para isso, o portfólio será composto basicamente por calçados, que representam a maior fatia do segmento.

"Para curto prazo, nossa expectativa é posicionar novamente de forma robusta e sólida a Saucony na prateleira dos principais varejistas do Brasil, consolidar a visão da marca como uma marca de performance em corrida para o consumidor brasileiro e aí sim começar a ter maior penetração de mercado a partir do segundo semestre de 2018", explicou Chamsin.

Outra estratégia do grupo é a internacionalização de marcas que hoje têm boa penetração no mercado brasileiro, como Rainha e Topper. A ideia é aproveitar mercados em que o grupo já tem operação ou contatos – China e Estados Unidos, principalmente. "É um processo muito interessante de construção de marca, desenvolvimento e comunicação com público alvo. Exige pesquisa e disciplina. Acreditamos que é algo a ser construído pelo menos nos próximos 18 ou 24 meses até começar em outro país", concluiu Chamsin.

Os lançamentos de Saucony e Hickies devem fechar momentaneamente o portfólio de marcas da BR Sports. A ideia do grupo é investir nos selos que já estão em suas mãos e seguir assim ao menos até o fim de 2018. "Acreditamos em outras categorias e outras marcas com potencial de crescimento aqui no Brasil, mas não vemos isso como possibilidade real antes disso", ponderou Chamsim. Para um grupo que mostrou apetite tão voraz desde 2015, porém, convém não tomar essa resposta como axioma. A cultura dos Wizard já deixou claro que as regras do mercado podem mudar – e muito – em pouco tempo.

Guilherme Costa
Do UOL, em São Paulo

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