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Os millennials mudaram até as camisetas da Copa do Mundo

Na Vitrine

21/05/2018 04h00

Até o Mundial do Brasil, em 2014, camisa de Copa do Mundo era inovação e tecnologia. Eram tecidos inteligentes, camadas duplas, materiais inéditos. Em 2018, a moda passou à frente da tecnologia. Culpa dos millennials, a geração que nasceu a partir dos anos 80 e criou a moda retrô.

A Adidas é o grande porta-voz desse fenômeno. A empresa alemã vai vestir 12 seleções na Copa do Mundo e todas as camisas criadas para essas equipes têm inspiração nos anos 90 e 80. O conceito é simples: já que os consumidores querem produtos retrôs, faz sentido colocar, em campo, uniformes que seguem essa linha.

"Isso já faz parte do DNA da Adidas. Originals é isso: reeditar produtos cults. Fazem isso muito bem com tênis e estão apenas exercitando em outro tipo de produto em função da Copa do Mundo", explica Dario Caldas, diretor do Observatório de Sinais, escritório pioneiro em pesquisa de tendências. Originals é marca da Adidas voltada a essa moda retrô. Em 2017, teve crescimento superior a 10% e foi um dos motivos que ajudaram a empresa a crescer em 18% de faturamento.

"Essa tendência tem a ver com um gosto contemporâneo, principalmente dos millennials, de atualização do passado. Não é exatamente uma nostalgia, já que não envolve saudade. É um gosto muito característico de atualizar o passado, de reeditar tudo aquilo que foi interessante, ou que eles consideram que foi interessante, nas últimas décadas do século 20. É algo que a moda faz desde os anos 90 e que, aparentemente, só agora chega ao futebol", completa.

Pesquisa mostrou que público queria retrô

Para comprovar o fato, a reportagem do UOL foi até a sede da empresa em Herzogenaurach, na Alemanha, e conversou com os responsáveis por criar as coleções para a Copa. Oli Nicklisch, diretor de produtos da Adidas, detalhou todo o processo de desenvolvimento dos uniformes.

Primeiro, a empresa colhe impressões das federações patrocinadas. Depois, faz uma pesquisa de tendências no mercado. Então, chega a fase de testes com grupos de opinião. Foram nesses dois últimos passos que eles entenderam que precisavam olhar para o passado.

"Quando começamos o desenvolvimento, tínhamos de responder a uma pergunta: o que os consumidores estão buscando? E essa pergunta levou a outras. Como o futebol é consumido diariamente? É no estádio? É na TV? Como você interage com o futebol como cultura?", explica Nicklisch.

"A resposta é que precisávamos olhar para o que estava enraizado na nossa cultura do futebol. E trazer para o futuro. A camisa da Alemanha é o maior exemplo disso: a inspiração foi aquela usada no título de 1990, um conceito criado pelo próprio Adi Dassler", conta Juergen Rank, diretor de design da empresa. A lenda diz que Dassler, o fundador da Adidas, olhou para as camisas da Alemanha até 1988, todas brancas e pediu cor. O uniforme agradou tanto na Eurocopa de 1988 que Franz Beckenbauer, técnico da seleção de 1990, pediu sua permanência por dois anos a mais.

Tecnologia não vende mais

Percebeu que, até agora, não falamos em tecnologia? Não é por acaso. Como conta Dario Caldas, esse não é mais um definidor de compra para o público mais jovem – justamente o alvo das grandes empresas. "O trunfo da tecnologia já não seduz esse jovem. Por isso as marcas estão buscando essa tendência retrô. As próprias empresas de tecnologia já perceberam isso. Nesse ano, por exemplo, toda a história que a Google contou no Salão de Milão envolve o conceito de softwear, com E e A, uma tecnologia mais humana, caseira. O High Tech não vende mais".

Isso não quer dizer, porém, que a tecnologia ficou esquecida. Para a Copa do Mundo de 2018, a Adidas trouxe a tecnologia Climachill para o futebol. Criada em 2014, consiste no uso de fios de titânio na malha, aumentando a troca de calor com o ambiente. Há quatro anos, o grande diferencial eram as microesferas de titânio impressas em tecnologia 3D que aumentavam a troca de calor do corpo. Esse detalhe, porém, não está presente no futebol.

"É uma tecnologia que existia em running, mas futebol é um esporte diferente, com exigências diferentes. Pode parecer um detalhe trivial, mas era preciso garantir que a tecnologia Climachill não fosse destruída quando números e nomes são inseridos nas camisetas em um processo de calor, por exemplo. E também existia a questão dos puxões e de toda a tensão a que uma camisa de futebol é submetida em campo. Para ser justos, camisas de corrida não encaram os mesmos desgastes. Por isso foi um caminho longo para adaptar a tecnologia até aqui", justifica Nicklisch.

Voltando à moda, as barras redondas, que fazem sucesso em camisetas mais descoladas, são a grande novidade no formato dos uniformes. "Percebemos que era algo que o público queria. E, felizmente, é algo que se adapta muito bem às necessidades do corpo dos atletas", fala Rank. Esse detalhe está presente apenas nas versões Authentic, idênticas às que os atletas vão usar – custam R$ 349,99 na loja virtual da Adidas.

Conheça o quartel-general da Adidas

UOL Esporte

Por Bruno Doro
Do UOL, em Herzogenaurach (Alemanha)

*Repórter viajou a convite da Adidas

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Esporte é emoção e conquistas, mas também é bola, chuteira, tênis, uniforme... Vamos falar tudo o que você precisa para praticar sua modalidade preferida ou usar o mesmo que o seu ídolo veste. A chuteira mais moderna, as curiosidades das novas bolas, quem já lançou camisa para a temporada e muito mais.