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Marca fake atrasou em 17 anos chegada de ex-patrocinadora do Real ao Brasil

UOL Esporte

26/08/2018 04h00

Butragueño, do Real Madrid, em 1992, com a camisa da Hummel (Allsport UK /Allsport)


"Que bom que vocês voltaram ao mercado". Diretora-executiva da Hummel no Brasil, Fernanda Sakai já perdeu as contas de quantas vezes ouviu isso. Só que a gigante dinamarquesa, criada em 1923 e que já foi, entre muitos outros clubes, patrocinadora do Real Madrid entre 1986 e 1994, chegou ao país em novembro passado pela primeira vez.

A confusão vem de 17 anos de briga judicial com uma empresa fake que fez sucesso no futebol dos anos 1990. Quem tem mais de duas décadas de vida provavelmente vai se lembrar de Rhumell – "A Hummel com erre", como diz Sakai.

Evair, em 1994, com a camisa do Palmeiras da Rhumell (Foto: Ormuzd Alves/Folhapress)


Desconhecida, a empresa venceu a concorrência de multinacionais e foi a fornecedora do Palmeiras entre 1993 e 2003. Ainda que seus donos não fossem conhecidos, a ponto de a CPI do Futebol nunca tê-los encontrado, a Rhumell patrocinou alguns dos principais clubes do país, incluindo Inter, Botafogo, Santos e Cruzeiro.

"A Rhumell atrasou nossa entrada no Brasil em 17 anos", conta Sakai. "Na época do Palmeiras, eles criaram essa marca, um plágio da nossa, com o mesmo logo, a mesma sonoridade do nome, aproveitando que na época a gente estava com o Real Madrid, e registraram no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). Só que o logo não era deles, era nosso. E por estar registrado como deles, a gente não conseguia entrar."

Segundo ela, os advogados da empresa dinamarquesa até hoje não conseguiram chegar aos donos da Rhumell. Muitos acreditam que existe uma ligação com Mustafá Contursi, ex-presidente do Palmeiras, mas ele sempre negou qualquer relação. Em novembro, enfim, os entraves jurídicos foram resolvidos e a Hummel avisou ao mercado que estava chegando ao Brasil. O que fez a Rhumell, então adormecida, acordar de novo.

Guilherme Mattis, do Bragantino, com camisa com o logo da "nova" Rhumell, em jogo contra o Santos em janeiro (Marcello Zambrana/AGIF)


Sumida dos campos de futebol, voltou no Paulistão, na camisa do Bragantino. E a briga jurídica recomeçou. O clube de Bragança Paulista foi acionado judicialmente, mas alegou ter agido de boa fé. Após notificação judicial, está jogando com camisas apenas com a logomarca da empresa, sem o nome Rhumell. As fotos das partidas contra o Santos, de janeiro, ainda na fase de grupos do Campeonato Paulista, e contra o Corinthians, em março, já nas quartas de final do estadual, mostram a diferença.

Lance de Bragantino x Corinthians, em março. Logo já não tem o nome da Rhumell (Daniel Augusto Jr./Ag.Corinthians)


Desde então, o Bragantino tenta romper o contrato com a empresa Mellgin Representações, que adquiriu o direito de licenciamento da Rhummel há um ano. "A gente estava negociando a rescisão, mas o dono da empresa sumiu. A gente não consegue falar nem com ele nem com os outros contatos da empresa que a gente tem. Eles ainda têm material a entregar", conta Luiz Arthur Abi Chedid, vice-presidente. O Bragantino pega o Náutico neste domingo, no Recife, em jogo que vale o acesso à Série B ou o encerramento da temporada.

O Na Vitrine falou com Eduardo Schmidt, dono da Mellgin. Ele disse que comprou a marca Rhummel de uma terceira empresa, que por sua vez teria comprado os direitos de uso da Rhumell "original", quando esta faliu. A reportagem tentou contato com representantes desta terceira empresa, mas a pessoa indicada disse apenas que tinha se desligado da companhia e que "não tinha nada com Rhumell desde 2002".

Schmidt explicou que a intenção com a Rhumell era usar uma marca conhecida para aumentar o volume de negócios de confecção. E que, quando fez o acordo, desconhecia os problemas legais atrelados ao nome. Hoje, diz que só perdeu dinheiro com o projeto, que desistiu de explorar o nome e deve se sentar com o Bragantino na próxima semana para resolver problemas da parceria – que, para ele, foi rescindida na época da contestação da Hummel.

Enquanto isso, a outra Hummel, a original, começa a aparecer mercado brasileiro. Em novembro, acertou com Fernanda Sakai e seu marido, Dalton, para que eles a representassem no Brasil. Na quarta, anunciou o patrocínio às equipes de handebol, basquete e vôlei do clube Pinheiros, de São Paulo.

Por Demétrio Vecchioli,
Do Olhar Olímpico

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