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Chuteira de Gabriel Jesus pode ter causado sua lesão? Médicos respondem

Na Vitrine

18/02/2017 06h00

Gabriel Jesus sofre lesão no jogo do Manchester City contra Bournemouth (Crédito Stu Forster/Getty Images)

A lesão de Gabriel Jesus na última segunda-feira surpreendeu o mundo. Em um lance dentro da grande área, ele pisou errado, torceu o tornozelo e fraturou o quinto metatarso do pé direito. Some a estranheza da lesão ao impacto que o brasileiro vinha tendo no Manchester City e uma caça aos culpados começou imediatamente.

Não demorou para que a chuteira usada virasse a vilã do caso. Ex-jogador do Arsenal e hoje comentarista, o inglês Ian Wright disse que "a lesão deve ter alguma coisa a ver com a chuteira. Essas chuteiras de plástico macio não parecem ter muita proteção", afirmou o ex-atacante, em um podcast jornal The Sun.

(Crédito: Mike Hewitt/Getty Images)

Mas será que a afirmação faz sentido? Há alguns anos, médicos pesquisam a ligação entre chuteiras, cravos de chuteira e lesões – existem estudos que ligam o uso de travas alongadas (popularmente conhecidas como "dente de tubarão") a lesões graves de ligamentos cruzados no joelho. Por isso, o Na Vitrine perguntou a Joaquim Grava, ortopedista e médico do Corinthians, e José Luís Runco, do Flamengo e com passagem pela seleção brasileira, se a chuteira usada pelo atacante do Manchester City poderia ou não ter mais proteção ao atleta. Os dois não veem ligação entre a chuteira e a fratura.

"Para esse tipo de trauma, não tem como proteger. Não importa o tipo de calçado. Você pode até estar andando na rua, torcer o pé e ter uma fratura igual. Até mesmo as proteções com faixas que os jogadores costumam fazer não ajudariam nesse caso", afirma Grava.

"Se fosse assim, teríamos um volume muito maior de lesões desse tipo", analisa Runco. "Na ortodopedia e traumatologia esportivas, falamos em mecanismo da lesão. O osso que ele lesionou é preso a um tendão muito forte. No movimento de torção de tornozelo, esse tendão fez tração e quebrou o osso. Não vejo ligação com a chuteira. Além do mais, o Gabriel Jesus joga há muito tempo com as mesmas chuteiras. Estamos falando de um mecanismo de lesão, não de um problema de equipamento", completa.

Com as marcas, a opinião foi igual. "É difícil falar se a chuteira pode ou não pode proteger o pé do jogador de uma lesão como essa. Mas as chuteiras como um todo são feitas para, além de proteger o atleta, dar uma sensibilidade no toque de bola. Dependendo do material usado, pode haver uma proteção maior a entorses. Mas a grande questão é a busca pelo ponto de equilíbrio entre a sensibilidade do toque na bola e a proteção ao atleta", diz Rodrigo Cocenza, especialista em produto da Nike do Brasil.

A Adidas, patrocinadora de Gabriel Jesus, também concorda que "relacionar a lesão com o uso da chuteira não tem o menor sentido. "Todas as chuteiras da Adidas são testadas nos laboratórios da empresa na Alemanha por mais de um ano antes de entrarem em campo. Os atletas por sua vez, testam essas chuteiras por 1 ou 2 meses antes de usarem em jogos oficiais. A chuteira usada pelo Gabriel Jesus era a X16 Blue Blast, que é uma das mais leves do mercado e com cravos baixos. E qualquer ortopedista pode confirmar que uma fratura óssea é, na imensa maioria dos casos, fruto de um trauma. Relacionar a lesão com o uso da chuteira não tem o menor sentido. Craques como Luís Suarez, Gareth Bale, Thomas Muller estão usando a mesma chuteira e não se lesionaram. Estamos à disposição para falar dos detalhes técnicos do nosso material esportivo", afirmou a marca alemã, em resposta ao Na Vitrine.

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