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O que levou um time a trocar número no uniforme por preços de supermercado?

Na Vitrine

07/04/2017 13h59

Nas últimas duas partidas do Fluminense de Feira de Santana, quem olhou com mais atenção para as costas dos jogadores não viu números, mas preços de produtos como pizzas congeladas, cremes de barbear ou shampoos. Foi uma ação feita pelo clube em parceria com uma agência de propaganda que chamou atenção – até mesmo o jornal espanhol Marca falou do assunto.

Mas o que levou o time a trocar os números por preços? A resposta é aquela que você já esperava: necessidade. "O futebol é muito ingrato com os times pequenos nessa questão de patrocínio. Fica aquela questão do 'quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?', porque você não consegue montar um bom time sem condições e ter um bom time requer recursos. Essa criatividade vem disso. Nós tínhamos poucos patrocinadores no início, então resolvemos ter patrocinadores por jogo", explicou o gerente de marketing do clube, Xico Melo, ao site Bahia Notícias.

A próxima partida do Fluminense será no dia 16, contra o Bahia, pela semifinal do Campeonato Baiano. E a preparação do time reflete os problemas financeiros que os anúncios de supermercado sugeriam. Sem um campo de treinamento, o time trabalha no estádio Joia da Princesa. E vai se concentrar no interior.

"Nós vamos treinar amanhã no Joia, porque não temos campo aqui. Mas na semana que vem a gente deve ir para Santo Estêvão, ficar concentrado lá. O nosso maior problema é esse: nós não temos campo de treinamento, então é meio difícil se preparar para a semifinal se a gente não tem onde treinar", disse o técnico Arnaldo Lira. "O Fluminense está melhorando neste sentido, vai crescendo. Mas é complicado competir se não tiver patrocínio, se não tiver campo, o campeonato fica desigual. Não tem como comparar essa parte financeira com Bahia e o Vitória", completou.

Com a repercussão da ação, a diretoria do Fluminense espera conseguir mais dinheiro para as finais do campeonato. A diretoria de marketing já avisou que os preços não voltarão, ao menos por enquanto, para as camisas do time. "Estou muito feliz pelo trabalho, foi muito boa a repercussão. A ação acabou, infelizmente. Agora estamos procurando patrocínio para os jogos das semifinais. Estamos vendendo o espaço por R$ 15 mil por jogo", avisou Melo. Como comparação, o Santos acaba de renovar com a Caixa para receber R$ 16 milhões – para não citar a relação Palmeiras-Crefisa, que chega aos R$ 100 milhões.

Fica, porém, a questão: a ação é positiva para o clube? Pode render novas parcerias, essas, sim, com maior duração e em moldes mais tradicionais? O UOL Esporte falou com especialistas sobre o assunto e ouviu críticas à ação.

"É uma vergonha. E a culpa não é deles. É do Cruzeiro, do Corinthians, do Flamengo. Se os clubes grandes fazem ações do tipo, como é que o Fluminense de Feira vai achar que não é positovo? É a degradação de uma ferramenta que foi boa e hoje virou nada no Brasil, o marketing esportivo. O uniforme deveria ser algo sagrado, mas é tratado como se fosse algo menos importante. O que eu vejo é um despreparo de quem está no marketing dos times e que não tem ideia de como alavancar a relação com um patrocinador. Existem milhões de oportunidades para criar essa relação, sem ter de apelar para o uniforme", analisou Amir Somoggi, consultor em marketing e gestão esportiva.

"Como profissional da área, eu não aprovo esse tipo de ação de varejo. Mas se você analisar a criatividade, não podemos negar que existe um valor. Além disso, vai ser possível saber exatamente qual foi o efeito gerado. O supermercado poderá dizer que vendeu 50% a mais, por exemplo. Ou saber qual jogador foi o responsável pelo maior aumento de vendas de produto. Para mim, a questão é maior: é não existirem ações diferentes no futebol como um todo, principalmente nos grandes clubes. Hoje, olham para o futebol apenas como mídia. Todas as verbas de publicidade das empresas estão com as agências de publicidade e essas só enxergam o esporte como exposição", falou Rafael Plastina, CEO da Sport Track MKT Esportivo.

Não por acaso, a ação do Fluminense foi uma parceria com uma agência de publicidade. Xico Melo contou para a Fox Sports que quem teve a ideia foi a agência DM9, para a rede de supermercados Walmart.

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