Nova chuteira de Neymar pode ter causado lesão? Não é bem assim
Na Vitrine
03/03/2018 08h17
Um dia depois da lesão de Neymar que vai tirar o craque do PSG e da seleção brasileira dos gramados por até três meses, o site FootyHeadlines, um dos mais conceituados na área de equipamentos para futebol, levantou uma dúvida: será que a chuteira nova usada pelo jogador pode ter sido um fator na torção de tornozelo que causou a fratura no quinto metatarso do pé direito?
É a mesma discussão do ano passado, quando Gabriel Jesus sofreu a mesma lesão. Na época, o ex-jogador do Arsenal e hoje comentarista Ian Wright disse que "a lesão deve ter alguma coisa a ver com a chuteira. Essas chuteiras de plástico macio não parecem ter muita proteção". Com Neymar, quem levantou a dúvida foi o comentarista Sílvio Lancelotti.
O UOL Esporte conversou com jogadores e especialistas para voltar ao tema. E a resposta segue a mesma: não é possível ligar a lesão ao calçado. "Não existe nenhum estudo consistente que liga chuteiras a esse tipo de lesão. É claro que uma chuteira pode fazer parte de um trauma se tiver um grip (aderência) mais potente. Mas existe uma série de variáveis no movimento que leva à lesão que é difícil isolar um motivo como esse", explica o médico Rubens Sampaio, que trabalhou no Palmeiras por 15 anos.
Luizão, ex-atacante campeão do mundo com a seleção brasileira em 2002, é ainda mais enfático: "Se tiver de machucar, machuca. Foi uma fatalidade, acontece. É como andar na rua e pisar em falso. Eu, por exemplo, não gostava de jogar com trava redonda. Tive um monte de lesão, cirurgia… Não vou colocar a culpa na chuteira."
A chuteira de Neymar
A reportagem ainda falou com dois jogadores em atividade – que falaram sobre o assunto sob condição de anonimato. Um deles, que joga com a mesma chuteira de Neymar, disse que o assunto era "cascata". O outro afirmou que "ouviu" que as chuteiras do selo Mercurial, da Nike, prendiam mais na grama do que outros modelos e, por isso, podiam levar a torções de joelho – ele joga com chuteiras de uma marca concorrente.
No ano passado, outros dois especialistas já tinham negado que a chuteira poderia ter influenciado em uma fratura do quinto metatarso. "Para esse tipo de trauma, não tem como proteger. Não importa o tipo de calçado. Você pode até estar andando na rua, torcer o pé e ter uma fratura igual. Até mesmo as proteções com faixas que os jogadores costumam fazer não ajudariam nesse caso", analisou, em fevereiro de 2017, Joaquim Grava, médico do Corinthians.
"Se fosse assim, teríamos um volume muito maior de lesões desse tipo. Na ortopedia e traumatologia esportivas, falamos em mecanismo da lesão. O osso que ele lesionou é preso a um tendão muito forte. No movimento de torção de tornozelo, esse tendão fez tração e quebrou o osso. Não vejo ligação com a chuteira. Além do mais, o Gabriel Jesus joga há muito tempo com as mesmas chuteiras. Estamos falando de um mecanismo de lesão, não de um problema de equipamento", completou José Luís Runco, ex-médico da seleção brasileira.
É a mesma opinião de Rubens Sampaio sobre a lesão mais recente. "Pelo o que interpretei do que o Rodrigo Lasmar (atual médico da seleção, que vai operar o jogador) falou, a torção atual foi só a gota d'água de microtraumas repetitivos no local. Então, o que levou à fratura é muito mais o estresse no local do que o calçado."
A troca de chuteiras
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- Chuteira nova nos primeiros minutos de jogo
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- Chuteira velha até o fim do jogo
As críticas à chuteira de Neymar surgiram, provavelmente, pela linha do tempo envolvendo o atacante e o novo equipamento. No dia 7 de fevereiro, a Nike lançou a nova Mercurial Superfly 360, em um evento global na Inglaterra com a presença de Cristiano Ronaldo e Neymar.
O brasileiro estreou a nova chuteira uma semana depois, no duelo contra o Real Madrid (e CR7) pela Liga dos Campeões. O problema é que, com 20 minutos de jogo, ele foi visto trocando o calçado pelas velhas Mercurial Superfly II (aquela com as mesmas cores que Ronaldo Fenômeno usou na Copa de 1998).
No segundo jogo com a Superfly 360, Neymar atuou 90 minutos com ela – e ainda marcou uma vez. No dia da lesão, porém, a única diferença de equipamento do brasileiro era a configuração do solado, com travas de alumínio – nas outras duas partidas, ele tinha usado as travas trapezoidais de borracha.
Bruno Doro e Thiago Rocha
Do UOL, em São Paulo
Créditos das fotos:03
1. AFP/Geoffroy Van Der Hasselt
2. Stu Forster/Getty Images
3, 4 e 5. Nike/Divulgação
6 e 7. Gonzalo Arroyo Moreno/Getty Images
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